De Dilma a Anitta: o que todas essas mulheres tem em comum

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Ilustração: Waldemar Von Kazak
Longe de mim querer demonizar os porcos e colocá-los no mesmo pacote de homens assediadores e misóginos, mas a ilustração é a mais pertinente que eu encontrei sobre o tema. Ilustração essa que muito lembra uma foto que me motivou a escrever esse texto. 

Durante a última sexta-feira, dia 6 de abril, o cafetão Oscar Maroni, aparece em uma foto na sua boate, Bahamas Club, explorando o corpo de uma mulherfazendo centenas das pessoas ali presentes a observarem como um pedaço de carne e uma mercadoria oferecida junto com as cervejas distribuídas gratuitamente, devido a prisão do ex-presidente Lula. Assim como a maior parte do conteúdo do Instagram de Oscar Maroni, em que em seus vídeos sempre contém uma mulher semi-nua, geralmente de costas e com a cabeça cortada na filmagem, como se elas fossem um objeto de decoração do cenário. Por isso, meus amigos, precisamos, mais uma vez, falar sobre a objetificação da mulher e a misoginia por trás disso.
Quando a ex-presidente Dilma Rousseff, anunciou o aumento dos preços da gasolina no primeiro semestre de 2015, circulou adesivos de cunho extremamente misógino no carro de pessoas anti-Dilma, como forma de "protestar" contra o aumento dos preços. Para eles, a melhor forma de protestar é fazendo uma óbvia apologia ao estupro, ao penetrarem a bomba de gasolina na figura que representava, na época a chefe de Estado. Porém, quando Michel Temer aumentou o preço cerca de quatro vezes a mais do que a ex-presidente, os protestos foram muito mais amigáveis.
Ou quando a jornalista esportiva Bruna Dealtry, do canal Esporte Interativo, exercia sua profissão em meio a torcida do Vasco e do Universidad, e um dos torcedores a surpreende tentando beija-lá a força, durante uma transmissão ao vivo. A partir disso, surge uma a campanha chamada ‘’Deixa Ela Trabalhar’’, em que mulheres do meio esportivo, incluindo Fernanda Gentil, Cris Dias e Carol Barcellos, exigem tanto respeito na profissão quanto o que os homens recebem.

Do mesmo modo, quando a MC Tati Zaqui se apresentava em um de seus shows, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, no último domingo (8), e um homem da platéia puxou os cabelos da cantora para trazê-la mais pra perto. Como se a profissão que a cantora escolheu a tornasse propriedade do homem que fez isso, e ela devesse, no mínimo, lhe dar atenção exclusiva.

Ou quando um pastor, Otoni de Paula (PSC-RJ), que também é candidato a vereador, publicou um post questionando a sensualidade de Anitta, se ela seria uma cantora ou uma garota de programa por suas músicas e danças sensuais. Um questionamento direcionando na maioria das vezes para artistas mulheres, mas que não é exclusivo do pastor. A sociedade no geral, está sempre questionando a moral de mulheres que tiram seu sustento da mesma forma que artistas como Anitta e Tati Zaqui. Porém, os artistas homens que fazem o mesmo trabalho, sofrem bem menos com essas críticas.

Já que estamos falando de arte, você sabia que menos de 5% dos artistas na coleção do Museu de Arte Metropolitan eram mulheres e 85% de todos os nus eram femininos? Mulheres precisam estar nuas para entrar nas galerias então? Informações como essas incentivou a surgir o coletivo Guerrilla Girls, que discute a representação da mulher no mundo artístico.


Eu poderia continuar citando uma série de famosas, de A a Z, do mundo artístico, jornalistico, político e até anônimas que já vivenciaram situações assim. Do mesmo jeito que eu poderia continuar citando homens famosos, de A a Z, do mundo artístico, jornalístico, político (alô, Bolsonaro) e até anônimos que já destilarem frases e atitudes de caráter extremamente misógino, rebaixando a mulher para a categoria de objeto, tendo suas vontades colocadas em segundo plano.

Apesar das diferenças raciais, geográficas, sociais ou o que quer que seja, todas essas mulheres, assim como eu que estou escrevendo, e se tiver alguém lendo, vocês também, têm em comum uma coisa: carregar o peso de ter nascido em uma sociedade que cresceu em cima do patriarcalismo, em que os homens detém os privilégios sociais e controlam as decisões.

Ter gerações e gerações construídas com essa racionalidade faz, ainda hoje, mesmo com todas as leis já criadas para tentar combater o machismo, mesmo com todas as políticas de incentivo a participação de mulheres na política, para que assim, as nossas necessidades sejam menos ignoradas; mesmo com tudo isso, fez a maior chefe do Estado, na época, apesar de todos os seus anos de estudo e de atuação na política, ser desrespeitada de uma forma humilhante, pelo simples fato de ter nascido mulher.  Faz a jornalista Bruna Dealtry, mesmo com todos os finais de semana dedicados a faculdade, cursos e analisando jogos, ser tratada como ''apenas uma garota bonita em meio a um monte de torcedores héteros'', ignorando que a profissional foi ali para trabalhar, assim como qualquer outro repórter homem iria.

É importante reforçar, que independente da formação acadêmica e\ou do quanto que uma mulher lutou para ocupar determinado espaço, nem precisaria disso tudo para ela ser respeitada, porque o respeito já é delas (ou nosso) por direito.

Ser mulher é sinônimo de luta diária, umas mais outras menos, dependente da posição que ocupamos e\ou dos privilégios que  podemos possuir, querendo ou não, desde o nosso nascimento. Não importa o quão diferente sejam as nossas posições políticas ou nossos interesses de vida, sempre teremos em comum a dor de ser quem se é.

Por isso, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Fotos: Mídia Ninja

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