Erros e acertos de Super Drags
Super Drags (2018) é uma série de animação criada por
Anderson Mahanski, Fernando Mendonça e Paulo Lescaut, que narra a
história de Patrick, Donizete e Ralph, três amigos que normalmente trabalham em
uma loja de departamento, mas que são corriqueiramente convocados para salvar o
mundo contra injustiças e preconceitos. Quando isso ocorre eles são
transformados nas drags Lemon, Scarlet e Safira.
A série que estreou na última sexta feira, vem
causando polêmica principalmente porque aborda o mundo LGBT, sua linguagem,
estética, temática e referências correspondem a este universo. Considerando a
onda de conservadorismo que tomou força no Brasil nos últimos tempos, muitas
pessoas foram contra o lançamento do desenho. Inclusive o deputado Alan Rick
(DEM-AC), lançou uma nota de repúdio na sua rede social com a justificativa que
a animação é imprópria para as crianças. De fato, Super Drags é destinada ao
público jovem-adulto tendo classificação para maiores de 16 anos, o que foi
deixado bem claro pela Netflix.
Apesar disso a série foi lançada e teve análises
positivas por parte da crítica. No geral eu gostei bastante, mas também tenho
minhas ressalvas. Amei o fato de abordarem temáticas atuais e necessárias, como
os padrões de beleza, homossexualidade na infância, manipulação midiática e
cura gay, tudo com base no cenário que o Brasil está vivenciando atualmente.
Também é importante frisar a relevância dessas discussões para o movimento
LGBT, pois a animação expõe a homofobia e a enfrenta com toques de humor.
Porém, esse lado cômico pode ser um problema, pois
faz Super Drags ser carregada de estereótipos e isso, na minha visão, é um
ponto negativo. A reafirmação do homossexual afeminado que serve apenas para
fazer humor é algo disseminado há anos pela mídia tradicional e definitivamente
não precisava ser inserido na série, ao invés disso poderiam ter aproveitado seu amplo espaço para combater esses rótulos ultrapassados.
Há também um fato isolado que me deixou em choque,
pois como todos sabemos assédio sexual é configurado como crime, entretanto os
criadores acharam de bom tom colocar uma cena em que Lemon apalpa o pênis de um
homem desacordado. Para mim, esse trecho além de ser absurdo e errado em
diversos níveis, não engrandece em nada a série, ao contrário, a desvaloriza e
empobrece sua força no combate ao preconceito.
Apesar disso, Super Drags tem uma grande
importância para o cenário cultural, principalmente se pensarmos que é um
desenho brasileiro que está dentro da maior plataforma de serviço streaming do
mundo e que pode usar esse espaço privilegiado para produzir uma narrativa
consciente e politizada. Espero que seus criadores repensem esses pontos na
construção de uma futura segunda temporada.
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