A parte que te falta

by - 20:00


‘’Faltava-lhe uma parte. E ele não era feliz. Então, partiu em busca de encontrar a outra parte’’

Há algumas semanas, a Jout Jout postou um vídeo na internet falando sobre um livro infantil chamado ''A parte que te falta''. Inspirado nele, eu resolvi fazer esse texto.

 Tirando as pessoas da família, eu nunca tive amizades muito duradouras pra colocar na minha lista. Minha prima, que era a minha melhor amiga na infância, morava em outra cidade, então a gente ficava juntas nas férias e em alguns finais de semana\feriado, mas depois nos separávamos. Aos 12 anos, Minha melhor amiga do colégio precisou mudar de cidade, e claro, a gente falou que ia manter contato sempre e que quando acabássemos o colégio, iriamos morar juntas na faculdade. Só que, pasmem, a vida aconteceu e perdemos o contato uma com a outra. 
Depois, eu fui fazendo novos amigos e me senti bem de novo. Eu não me sentia mais sozinha porque tinha aquelas pessoas ali. Só que eu percebi que esses amigos nem eram tão amigos assim e eu deveria merecer coisa melhor. Então eu me afastei. Mas eu me senti tão sozinha e perdida que passei a achar que aquelas pessoas não deveriam ser tão ruins, de fato, e fui os aceitando novamente, já que assim eu não estava mais sozinha.
 Nesse meio tempo em que eu já nem sabia mais o que é certo ou errado, quem deveria ir embora ou permanecer na minha vida, meu irmão do meio mudou de cidade pra fazer faculdade, e nós dois sempre fomos próximos, tivemos que nos readaptar novamente, de acordo com as mudanças.

 ‘’E como lhe faltava uma parte, não conseguia rolar muito rápido. Assim, podia parar para conversar com uma minhoca ou sentir o aroma de um flor. E às vezes, ultrapassava o besouro. E às vezes, o besouro o ultrapassava. ’’ 

Só que enquanto eu me sentia perdida, o meu irmão sempre se virou muito bem tendo que viver em um lugar novo e onde também só tinha praticamente gente nova. Ele inclusive faz\faz umas das coisas que eu mais tenho medo, sair sozinho pra me divertir. Tudo bem que ele é homem, isso já o isenta de passar por situações no mínimo desconfortáveis que nós, mulheres, podemos passar. Acho que para a maioria das pessoas, se permitir sair sozinha para aproveitar a própria companhia é algo assustador, mas é um ato de coragem. Se permitir dar a cara a tapa e possivelmente, ouvir comentários do tipo ‘’nossa, mas você tão bonita\jovem\*insira qualquer outro adjetivo comumente usado pra tentar elogiar alguém, principalmente mulheres*, e ainda veio sozinha?''  Isso é um dos maiores absurdos de se ouvir, já que no final do dia, tudo que temos é quem nós somos, não é mesmo? 
Apesar disso, assim como meu irmão, eu também precisei me virar em outra cidade e praticamente começar do zero. Nova casa, nova cidade, novas pessoas com novos hábitos pra dividir a casa, novos amigos, novos professores, novos interesses amores. E tudo que eu queria era nunca estar sozinha para eu poder ocupar minha mente e esquecer todo esse medo que eu estava sentindo por finalmente está virando gente grande e soltando a mão da minha mãe. Só que claro, como era de se esperar, as pessoas não vão sempre corresponder a o que eu quero e elas têm necessidades particulares. Então, eu que já não me sentia completa, passei a me sentir menos ainda.


‘’Bem, talvez você queira fazer parte de si mesma, certo? Posso ser de alguém e ao mesmo tempo ser de mim mesma.’’ 

Chega um momento em nossas vidas que a gente percebe que certas coisas precisam ser feitas sozinhas. Não se pode contar com outras pessoas pra tudo. Então eis aqui o que eu digo:
 Eu não digo nada. Eu sempre me senti miúda por dentro e necessitada de ter gente por perto, caso contrário, era como se minha felicidade fosse falsa. Sempre senti medo de tudo e me achava pequena demais pra fazer qualquer coisa, e cresci com a minha cabeça alternando em: ‘’tudo vai dar certo em algum momento’’ e ‘’pessoas medíocres, como eu, não conseguem dar certo em nada’’. 


 Às vezes, a vida vai fazendo sentido e eu passo a gostar de ficar sozinha quando estou em casa ouvindo música alta, faxinando e tentando cuidar das minhas plantas. Aí a vida é boa e minha companhia me basta.
 Outras vezes, tudo que eu quero é ter alguém pra me chamar pra os rolês sem ter uma surpresa quando olhar as redes sociais e perceber que saíram sem me chamar. Aí a vida é ruim e a solidão é uma sina que eu não queria carregar. 
Seja o que for, a gente deve seguir tentando encontrar algo que nos faça bem sem incluir uma outra pessoa nisso. Por experiência própria, isso é muito perigoso. Mas estar vivo é procurar, então a gente segue tentando. 

Por hoje, a vida é boa bagarai, meus amigos.  


Ilustrações: Julia Bereciartu

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2 comentários

  1. Nossa Tha, eu sou exatamente assim! Sempre quis ser cercada de pessoas (afinal estava até no meu signo q eu fazia muitos amigos!) mas sempre tive poucos que não se importavam tanto assim. Minhas melhores amigas tbm estão afastadas, então você já deve ter uma noção de que eu me identifique com seu texto, com as ilustrações & com o vídeo da jout jout. hahah
    Sempre quis ser dessas pessoas q num precisam de ninguém, mas fazer o q, ñ sou! E eu tbm nunca me atrevi a sair sozinha pelo medo do "forever alone" (mas qualquer dia acho q a gente deveria experimentar né?) e amo minha companhia e gosto de ficar sozinha. Enfim, amei muito seu texto <3 vc me transcreveu!

    Beijos, Gi.
    Blog About Girls

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  2. Me identifiquei com o seu texto. A minha prima também que é a minha melhor amiga morava em cidades diferentes (agora estados diferentes). Eu mudei de estado, e em consequência "perdi" a minha melhor amiga de infância. Na verdade perdemos contatos, a ponto de não se falar mais e hoje em dia nenhuma conhecer mais a outra. Logo após me senti sozinha, passei um tempo em outro estado e sem amigos nenhum. Longos dois anos. Depois fiz amigos que não eram tão amigos assim, me senti sozinha. Entrei pra faculdade, conheci pessoas, algumas anteriores a isso permaneceram, outras nem tanto. Mas aprendi a voltar a curtir a minha companhia e não sentir falta de ninguém. O problema não é estar só e sim se sentir só.
    A vida (quase) sempre continua.
    Beijos,
    Mundo Perdido da Carol
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